A interessante crónica do João César das Neves no diário de Notícias de hoje (16-2-2009) fez-me lembrar que terminei a leitura do livro “O confessor” de Daniel Silva, e para adensar a temática do holocausto também vi o filme “o leitor”…
Vamos lá, a temática do holocausto não me interessa particularmente. Como é óbvio preferia que o holocausto não tivesse existido e que dele só tivéssemos uma versão imaginária, mas temo que tenha sido bem real.
Quanto ao Livro de Daniel Silva, peguei nele um pouco por acaso, por ser o número 1 de uma colecção livros de bolso da colecção best-seller que estão a ser publicados pela Editora Bertrand, com o sentido de começar por uma ponta, embora já tenha lido o livro de Marc Levy que creio ser o número 5. Portanto nenhum motivo especial me levou a ler o livro.
O Confessor lê-se bem, existe a promessa de que existe um terrível segredo que motiva todas aquelas peripécias e mortes, mas quando a revelação surgiu, apesar de interessante, a distância temporal dos eventos pareceu-me uma razão ténue para justificar os eventos em curso no livro. Passando esse facto tudo bem…
Pareceu-me mais interessante reflectir no facto de nos estarmos a distanciar da 2ª Guerra Mundial, e que isso está a influenciar a maneira como se constroem as histórias em torno desse evento.
Colocar uma qualquer história em torno da 2ª Grande Guerra estabelece desde logo todo um cenário, um contraste entre o bem e o mal, os bons e os maus, que não é fácil de igualar noutros enquadramentos.
No caso de “O confessor” aquele evento só serve de uma razão distante e a acção ocorre num tempo mais ou menos presente com uma trama mais ou menos complexa nos meandros dos Vaticano onde habita um hipotético sucessor do polaco, Paulo VII.
No caso do filme “O leitor” a história é contada da perspectiva de alguém na Alemanha (de leste) em 1995 e que participou de forma tangencial nos eventos da história que consistem em vivências concretas da guerra vividas por uma personagem com quem se cruzou algures no passado.
As guerras não são necessárias para o que quer que seja, muito menos as grandes guerras, mas são cenários relevantes
para escrever histórias. As histórias que agora se parecem escrever/contar começam a ter alguma dificuldade de enquadramento temporal quando pretende usar a 2ª Grande Guerra como cenário principal. Assistimos agora a exercícios algo elípticos difíceis de disfarçar. Não deixam de ser exercícios interessantes… Fica no entanto a dúvida como é que no futuro próximo, em 2020 ou 2030, se escreverão histórias que toquem directamente as pessoas adultas jovens usando o cenário da última grande guerra? Terão de ser arranjados outros cenários simples? Serão esses cenários reais ou completamente ficcionais? Seja como for, terão de haver outros filões para escrever novas histórias tão ricas como aquelas que se escreveram e ainda se escrevem em torno dos eventos da 2ª Guerra mundial.
Crónicas sobre este livro:
em ocomerciodoporto.blogspot.com
em entreleituras
em jornalalenquer
PN, 16-2-2009
É verdade que a distancia temporal relativiza muito os acontecimentos quando não serve muitas vezes para contar versões deturpadas, ou pelo menos incompletas, dos mesmos.
É por isso que se diz muitas vezes que a história se repete ou que funciona por ciclos. Pois passamos o tempo a repetir constantemente os mesmos erros!
Não aprendemos nada – ou facilmente esquecermos por não conseguirmos interiorizar – as lições que o passado nos pode ensinar.
É por isso que a história è algo de fundamental que merece uma aprendizagem cuidada e que deve ser valorizada.
E na minha opinião nunca são demais os eventos culturais (livros, filmes, peças de teatro, etc) que periodicamente vão recordando alguns factos importantes, independentemente do tempo que já tenha passado sobre eles.
Porque, devido à sua extrema gravidade, nunca deverão ser esquecidos nem cair na indiferença ou na relativização.
É o caso do chamado “holocausto” dos judeus, na 2ª grande guerra, onde de uma forma perfeitamente racional e organizada (e por isso mais aterradora e repugnante) e numa dimensão nunca antes vista se quis exterminar uma população inteira.
É por isso que um filme como “O rapaz de pijama ás riscas” (presentemente em exibição) ou o livro que lhe serviu de base, deve ser visto ou lido.
Porque nos obriga a reflectir e a constatar que, longe de ser passado, é algo com profundas raízes na sociedade moderna e que, mediante determinadas condições particulares (períodos de grave crise económica e social por exemplo ) poderá de novo reaparecer em grande força.
Porque é sempre fácil e cómodo arranjar bodes expiatórios para os problemas….